segunda-feira, 12 de março de 2012

Não tenha medo da Cruz

Cristo de São João da Cruz, de Salvador Dali

Simão de Cirene por um instante ajuda Jesus, mas a tarefa de carregar a cruz é pessoal. Depois do breve alívio, a responsabilidade é retomada.
“Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16,24).

No caminho do Calvário, diz o Evangelho de São João que o próprio Jesus carregava sua cruz (cf. João 19,17). Jesus sabia da sua missão, do projeto do Pai para com ele. Diante da possibilidade de sofrimento, o Deus encarnado, podia fugir para o deserto, longe de todos, mas não fugiu.  Depois da primeira queda, podia ter simulado um desmaio, desistindo ali, mas não desistiu. Ao ver sua mãe chorando, podia ter-se sentido vítima, injustiçado, mas não foi assim.

Nos olhos do filho, penetrados nos olhos da mãe, existia uma cumplicidade: Eis aqui os servos do Senhor, faça-se a tua vontade... (Lucas 1,38).

Simão de Cirene por um instante ajuda Jesus, mas a tarefa de carregar a cruz é pessoal. Depois do breve alívio, a responsabilidade é retomada.

Jesus faz o convite: se alguém quer vir comigo, é necessário negar-se a si mesmo (Mateus 16,24).

Em nossos tempos, negar a si parece absurdo, fora dos esquemas psicológicos estabelecidos.


A orientação do Mestre é sábia. Nossa história individual geralmente é marcada por imagens que fabricamos de nós mesmos, ou por aquilo que desejamos acreditar a nosso respeito. É um prato cheio para as vaidades e enganos, mas ninguém pode seguir Jesus, iludido com a própria imagem.

Negar-se é esvaziar-se, arrancar os enfeites e assumir nossa real condição. Abraçar nossa essência com nossas perfeições e, sobretudo, nossas imperfeições.

Diante desse esvaziamento, a cruz deixa de ter o peso insuportável, às vezes sentido por nós. O sofrimento, mesmo na dificuldade para compreendê-lo, adquire um sentido pleno... Assim, não teremos a tentação de fugir, de desistir e de nos fazermos de vítimas. Existirá no brilho de nossos olhos uma certeza inquebrantável: minha fé é maior que minha cruz.

Não existe uma cruz mais pesada que a outra. Aparentemente, pode ser leve se, porém, a vida estiver mergulhada num poço de vaidades, o choramingo será constante, a debilidade ditará as regras...  Sou testemunha da fé de pessoas que diante do limite extremo, do peso insuportável de suas cruzes, foram capazes de transmitir serenidade... Nesses casos, só uma coisa explica, como diz o salmista: O Senhor é nossa rocha (Salmo 17,3).


Pe. Luís Erlin é sacerdote, missionário - autor do livro “Olhai os lírios do campo - Nada perturbe vosso coração”, Ed. Ave-Maria. Contato: editorial@avemaria.com.br